Seeing Stories

Recovering Landscape Narrative in Urban and Rural Europe

   
   

Two bridges between Lisbon and Edinburgh

 Imagens de azulejo

Laurinda Linda & Our Goodman (Sete noites de bebedeira) Laurinda Linda & Our Goodman (Seven Drunken Nights)
A balada portuguesa Laurinda (1) e a balada escocesa Our Goodman (2) pertencem a um grupo de baladas existentes em muitos países europeus que estão sem dúvida geneticamente relacionadas. A base de todas elas é o tema da mulher adúltera e esperta, surpreendida quase em flagrante pelo marido quando este volta de viagem. Este tema é desenvolvido através duma série de perguntas do marido sobre peças de roupa ou outros objectos que ele inesperadamente encontra ao regressar a casa e através duma série de respostas imaginativas da mulher, tentando escapar a ser desmascarada. Embora contem a mesma história, estas baladas apresentam diferenças próprias dos textos da tradição oral. A balada escocesa aborda o tema do adultério de modo meio cómico, fazendo com que o marido regresse a casa bêbado e dando à história um final aberto, que poderá ser visto como um final feliz ou, pelo menos, sem conflito. Por seu lado, a balada portuguesa leva o tema muito a sério, terminando a história com a decisão do marido de se separar da adúltera. Nalgumas versões da balada portuguesa, o marido diz mesmo que irá devolver a adúltera ao pai dela, "para que ele veja a mulher que me entregou". Repare-se, de qualquer modo, como estas baladas mostram um entendimento igual da questão do adultério: o problema está no adultério da mulher, pois é a mulher que a sociedade vê como devendo ser fiel. Pelo contrário, nos textos orais não costuma aparecer (ou aparece muito, muito raramente) a questão da fidelidade do marido, parecendo encarar-se o adultério masculino como algo desculpável e, até, natural. Portuguese ballad Laurinda (1) and Scottish ballad Our Goodman (2) are part of a group of ballads that appear in several European countries, and which are indeed genetically related. They´re structured upon the same theme of the adulterous and clever woman almost flagrantly surprised by her husband when he returns on from a journey. The theme unfolds through a sequence of questions put by the husband about unexpected garments or other objects he finds when returning home, and through a series of inventive answers by the wife in hope she won't be caught. Although the story is the same, these ballads show specific differences that are natural to oral tradition texts. The Scottish ballad displays the theme in a slightly comical manner, having the husband return home drunk and leaving the story to an open ending, which will be, if not happy, at least peaceful. On the other hand, the Portuguese ballad takes the theme to heart, ending the story with the husband making a decision to leave the adulterer. In some versions of the Portuguese ballad, the husband even says he will send the adulterer back to her father "so that he sees the wife he gave me". Nevertheless, it's worth noting how these ballads display an equal understanding of the adultery issue: the problem lies in female adultery, as society perceives faithfulness as a women's obligation. On the contrary, we find little (or very seldom) the theme of husband faithfulness in oral texts, which may indicate that male adultery is seen as a somewhat forgivable or even natural event.
  José Joaquim Dias Marques (Universidade do Algarve)

(1) Balada (ou mais propriamente "romance", termo usado para designar as baladas portuguesas) nº M1 do catálogo de Manuel da Costa Fontes, O Romanceiro Português e Brasileiro: Índice temático e bibliográfico.

(2) Balada nº274 da colecção de Francis J. Child, Popular English and Scottish Ballads. A versão (recolhida na Escócia em 1776) que será apresentada no espectáculo é a nº274A da colecção de Child. Foi por ele transcrita dos manuscritos de David Herd que estão na base da sua obra Ancient and Modern Scottish Songs (1776). Esta balada é também conhecida como Seven Drunken Nights  (versão popularizada por The Dubliners). 

(1) Ballad (or rather "romance", term used to designate the Portuguese ballads) nº M1 from Manuel Costa Fontes's catalogue, O Romanceiro Português e Brasileiro: Índice temático e bibliográfico.

(2) Ballad 274 from Francis J. Child's collection English and Scottish Popular Ballads. The version collected in Scotland (1776) that will be presented at the festival is the 274A from Child's collection. It was transcribed by Child from the manuscripts of David Herd of his collection Ancient and Modern Scottish Songs. This ballad is also known as Seven Drunken Nights (made popular by The Dubliners).

Lisboa Sec XVI

 Laurinda Linda

-Ó Laurinda, linda, linda!
És mais linda do que o sol!
Deixa-me dormir uma noite
Nas dobras do teu lençol.

-Sim, sim, cavalheiro, sim!
Hoje sim, amanhã não.
Meu marido não está cá
Foi à feira de Garvão.

Onze horas, meia-noite
Marido à porta bateu.
Bateu uma, bateu duas
Laurinda não respondeu.

Ou ela está doentinha
Ou já tem um novo amor
Ou então procura a chave
No fundo do corredor.

-De quem é este chapéu
Debruado a galão?
-É para ti, meu marido!
Fi-lo eu por minha mão."

-De quem é este casaco
Que ali vejo pendurado?
-É para ti, meu marido!
Que o trazes bem ganhado.

-De quem é este cavalo
Que na minha esquadra entrou?
-É para ti, meu marido!
Foi teu pai quem to mandou.

-De quem é este suspiro
Que ao meu leito se atirou?
Laurinda, que aquilo ouviu,
Caiu no chão, desmaiou.

-Ó Laurinha, linda, linda
Não vale a pena desmaiar.
Todo o amor que te eu tinha
Vai-se agora acabar!

-Vai buscar as tuas irmãs!
Trá-las toda num andor!
A mais linda delas todas
Há-de ser o meu amor."

 Fair Laurinda

-Oh Laurinda, fair Laurinda !
Oh, thou fairest of the fair!
Let me nest just for one night
In the ringlets of thy hair.

-Aye! Oh aye, sweet gentle man!
A night tonight, tomorrow none.
My good husband is out trading
Far away in Garabon.

'Round eleven, close to twelve
Good husband knocked on the door.
Fair Laurinda gave no answer
So he knocked a few times more.

Perhaps Laurinda has taken ill
Perhaps she found another friend
Perhaps she lost her set of keys
She lingers on for hours on end.

-Who owns that hat behind the door?
Who owns that hat I see?
-Thou own it, my good husband!
Mine hands made it to thee.

-Who owns that coat upon the chair?
Who owns that coat I see?
-Thou own it, my good husband!
A well-earned gift for thee.

-Who owns that horse outside the door?
Who owns that horse I see?
-Thou own it, my good husband!
Thy father sent it to thee.

-Who owns that sigh inside my bed?
The bed I lie with thee?
Fair Laurinda heard it too
So she fainted instantly.

-Oh Laurinda , fair Laurinda
Thou needest not faint, dear wife.
All the love I had for thee
Is now gone, thou bet thy life!

-Bring your sisters to my presence!
Bring them all into my sight!
For the fairest of them all
Will be my new spouse tonight.

 

 

 English version: Ana Sofia Paiva

 

Edinburgh Sec XVI

 Sete Noites de Bebedeira

Segunda-feira cheguei a casa
E já mal podia andar
Avistei um belo cavalo
Onde o meu havia de estar
-Com mil diabos! -disse eu,
Ó minha rica mulher
De quem é aquele cavalo
Não me queres lá tu dizer?

-Ó meu grande borrachão!
O vinho já te cegou?
É uma bela porquinha
Que a mãezinha me mandou!
-Mais de mil léguas andei
O mundo inteiro corri
Mas uma porca com sela
Foi coisa que nunca vi

Terça-feira cheguei a casa
E já mal podia andar
Avistei um belo casaco
Onde o meu havia de estar
-Com mil diabos! -disse eu,
Ó minha rica mulher
De quem é aquele casaco
Não me queres lá tu dizer?

Ó meu grande borrachão!
O vinho já te cegou?
É um belo cobertor
Que a mãezinha me mandou!
-Mais de mil léguas andei
O mundo inteiro corri
Mas botões num cobertor
Foi coisa que nunca vi

Quarta-feira cheguei a casa
E já mal podia andar
Avistei um belo cachimbo
Onde o meu havia de estar
-Com mil diabos! -disse eu,
Ó minha rica mulher
De quem é aquele cachimbo
Não me queres lá tu dizer?

-Ó meu grande borrachão!
O vinho já te cegou?
É uma bela gaitinha
Que a mãezinha me mandou!
-Mais de mil léguas andei
O mundo inteiro corri
Mas tabaco num gaitinha
Foi coisa que nunca vi

Quinta-feira cheguei a casa
E já mal podia andar
Avistei duas belas botas
Onde as minhas haviam de estar
-Com mil diabos! -disse eu,
Ó minha rica mulher
De quem são aquelas botas
Não me queres lá tu dizer?

-Ó meu grande borrachão!
O vinho já te cegou?
São duas belas jarras
Que a mãezinha me mandou!
-Mais de mil léguas andei
O mundo inteiro corri
Mas atacadores em jarras
Foi coisa que nunca vi

Sexta-feira cheguei a casa
E já mal podia andar
Avistei uma bela cabeça
Onde a minha havia de estar
-Com mil diabos! -disse eu,
Ó minha rica mulher
De quem é essa cabeça
Não me queres lá tu dizer?

-Ó meu grande borrachão
O vinho já te cegou?
É um belo menino
Que a mãezinha me mandou!
-Mais de mil léguas andei
O mundo inteiro corri
Mas um menino com barba
Foi coisa que nunca vi

 Seven Drunken Nights

As I went home on a Monday night
As drunk as drunk could be
I saw a horse outside the door
Where my old horse should be
Well, I called me wife and I said to her:
-Will you kindly tell to me
Who owns that horse outside the door
Where my old horse should be?

-Ah, you´re drunk you´re drunk!
You silly old fool! Still you cannot see?
That's a lovely sow
That me mother sent to me!
-Well, it's many a day I travelled
A hundred miles or more
But a saddle on a sow
Sure I never saw before

As I went home on a Tuesday night
As drunk as drunk could be
I saw a coat behind the door
Where my old coat should be
Well, I called me wife and I said to her:
-Will you kindly tell to me
Who owns that coat behind the door
Where my old coat should be?

As I went home on a Tuesday night
As drunk as drunk could be
I saw a coat behind the door
Where my old coat should be
Well, I called me wife and I said to her:
-Will you kindly tell to me
Who owns that coat behind the door
Where my old coat should be?

As I went home on a Wednesday night
As drunk as drunk could be
I saw a pipe upon the chair
Where my old pipe should be
Well, I called me wife and I said to her:
-Will you kindly tell to me
Who owns that pipe upon the chair
Where my old pipe should be?

-Ah, you´re drunk you´re drunk!
You silly old fool! Still you cannot see?
That's a lovely tin whistle
That me mother sent to me
-Well, it's many a day I travelled
A hundred miles or more
But tobacco in a tin whistle
Sure I never saw before

As I went home on a Thursday night
As drunk as drunk could be
I saw two boots beneath the bed
Where my old boots should be
Well I called me wife and I said to her:
-Will you kindly tell to me
Who owns those boots beneath the bed
Where my old boots should be?

-Ah, you´re drunk you´re drunk!
You silly old fool! Still you cannot see?
That's two lovely Geranium pots
That me mother sent to me!
-Well, it's many a day I travelled
A hundred miles or more
But laces in Geranium pots
Sure I never saw before

As I went home on a Friday night
As drunk as drunk could be
I saw a head inside the bed
Where my old head should be
Well, I called me wife and I said to her:
-Will you kindly tell to me
Who owns that head with you in the bed
Where my old head should be?

-Ah, you´re drunk you´re drunk!
You silly old fool! Still you cannot see?
That's a baby boy
That me mother sent to me!
-Well, it's many a day I travelled
A hundred miles or more
But a baby boy with his whiskers on
Sure I never saw before

 Versão portuguesa: Ana Sofia Paiva  

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 STORIES IN PLACE

Seeing Stories is ending as a project. But through the project we have met many individuals and organisations who want to share good practice and creative skills. So we are forming an international network called Stories in Place. The network is open to all those who through their work, art or volunteering wish to strengthen the connections between people and place through storytelling. Our aim is to further strengthen international friendship and collaboration.

If you would like to be part of Stories in Place please contact Donald Smith, Project Manager of Seeing Stories, and Director of the Scottish International Storytelling Festival, on donald@scottishstorytellingcentre.com